Seja qual for o seu objetivo ao fazer exercícios físicos, uma coisa é certa: a primeira preocupação deve ser a segurança com a sua saúde. Obviamente, de acordo com o nível de treinamento, é possível treinar mais perto ou mais longe do limite dessa segurança, mas sem ultrapassá-lo. Uma coisa que me preocupa é a história de aguentar. “Você corre 10 km? Ah, então aguenta correr 15 km!” “Levanta 50 kg? Então aguenta levantar 60 kg!”. Essa questão é delicada e vamos já ver o porquê.
Cientificamente, podemos relacionar a questão de aguentar, suportar determinado exercício a algo que chamamos de percepção subjetiva de esforço (PSE). O que é a PSE? Nada mais é do que a sua própria percepção do quanto está tendo que se esforçar para realizar determinado exercício. Em outras palavras, o quanto você está achando difícil. Podemos utilizar escalas quantitativas (0 a 10, 60 a 220) ou qualitativas. E isso já mostrou ter muito valor para o controle do treinamento. Qual o problema então?
A PSE é muito influenciável por fatores psicológicos. Quando estamos nos exercitando em grandes intensidades ou grandes volumes, isso pode ser um problema por um simples fato: a PSE está muito relacionada ao sistema cardiorrespiratório e muscular. Se por um lado isso é bom, pois ajuda no controle do treino, por outro lado, estruturas menos metabolicamente ativas não participam muito dessa percepção, e sua sobrecarga passa meio que despercebida. E olha só, são exatamente essas estruturas que estão muito susceptíveis a lesões: tendões, ligamento e cartilagens.
Na prática? Sabe aquela corrida em grupo, que você vai com uma galera que está acostumada a correr maratona enquanto você só corre 10 km? Ou aquela corrida motivacional puxada por alguém que não tem a menor ideia do que está fazendo? Pois é. Apesar de seu coração e seus pulmões darem conta desses quilômetros a mais, seus músculos se virarem com o esforço adicional e conseguirem se recuperar depois, os tendões, ligamentos, cartilagens e ossos podem estar sofrendo. E uma hora, a conta chega. Com aquela lesão ruim de sarar, aquela dor que limita movimento ou até mesmo te afasta dos treinos por um bom tempo. Por esse e outros motivos, bom acompanhamento e prescrição são essenciais para quem deseja evoluir. Respeite os sinais do seu corpo, mas respeite também sua planilha de treinos!
Médico – UFAL
Bacharel em Esporte – USP
Mestre em Educação Física – USP
Doutor em Ciências – USP
Especialista em exercício físico para grupos especiais
