Ozempic: o queridinho do momento

Vamos refletir sobre o queridinho do momento?

Lembrando que essa NÃO é uma crítica ao medicamento ou às pessoas que fazem uso dele, mas uma reflexão sobre seu uso não consciente e indiscriminado, principalmente sem acompanhamento médico. Além de trazer uma reflexão acerca da uma cultura imediatista que nos faz buscar por soluções mágicas e rápidas para nossos sofrimentos, ao invés de buscar compreende-los em suas origens.

O medicamento Ozempic, laboratório Novo Nordisk, é indicado para tratamento da diabetes tipo 2 em pessoas com níveis de açúcar muito elevados. Dentre suas funções, acaba por inibir o apetite e retardar o esvaziamento gástrico, levando a uma sensação rápida e mais duradoura de saciedade.

Diante desses efeitos, o Ozempic se tornou o “queridinho” do momento para o emagrecimento, trazendo um resultado rápido e contribuindo para melhora da autoestima, o que deveria elevar a motivação e o entusiasmo para buscar mudanças no que de fato gerou o ganho de peso. Maaaas não é bem isso que acontece, a busca é apenas pela estética de forma rápida e imediata.

Atualmente, testemunhamos um cenário social envolto a uma crescente cultura imediatista, na qual a busca por soluções instantâneas é cada vez mais predominante.

O advento da era digital, com seus esteriótipos, pressões, competitividade e exigências, têm fomentado uma mentalidade que busca por respostas rápidas e acesso imediato (sem sofrimento) à seus desejos. Essa constante competição social tem levado as pessoas a demandar resultados quase instantâneos em diversos aspectos de suas vidas.

A busca pelo corpo perfeito e, principalmente, que ele venha sem sofrimento, sem frustrações ou abdicações, é cada vez mais atual. Há pressa, mas não há tolerância com o processo. Há urgência, mas não há tempo para a caminhada. Não há saco para qualquer coisa que não seja para agora, que demande energia, que exija renúncias e que gere o mínimo de cansaço. Essas características de uma cultura mais imediatista facilitou o uso indiscriminado do Ozempic a ponto da medicação chegar a faltar nas farmácias mais populares. 

Deixando claro que não sou contra o uso do Ozempic, quando de forma consciente e acompanhado por um médico responsável. Porém, a maioria das pessoas não está em acompanhamento psicoterapêutico (para compreender sua relação problemática com a comida), não está fazendo exercício físico e nem reeducando sua alimentação, por isso, a taxa de reganho de peso ao interromper o uso é altíssima e muitos ganham até mais do que perderam. O próprio fabricante alerta para o ganho do peso perdido após interrupção do uso. 

O ganho de peso é uma consequência de diferentes e inúmeros fatores complexos, que vão além da alta ingestão de calorias. Também é um resultado da falta de conhecimento sobre seu próprio corpo, da dificuldade de realização de uma reeducação alimentar, do sedentarismo e, inclusive, da forma como aprendemos a nos relacionar com a alimentação desde pequenos. Por isso, como os fatores para a obesidade são múltiplos, é importante que o tratamento também seja preferencialmente multidisciplinar.

E preciso um olhar mais profundo para compreender qual a causa do aumento desenfreado das taxas de sobrepeso e de obesidade, consequentemente mortalidade por esta condição, assim como a procura desenfreada por resultados rápidos e imediatos. Se você possui problemas com ganho de peso, busque um profissional da medicina/nutrição responsável para ver qual é a melhor estratégia para você, mas também não deixe de buscar um psicólogo, para compreender sua relação com o alimento, um nutricionista, para trabalhar sua reeducação alimentar e um educador físico, para uma rotina saudável com atividades físicas. O trabalho multidisciplinar é sempre o melhor caminho para a obtenção dos melhores e mais duradouros resultados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima