ansiedade

Em terra de dopamina, o “pra ontem” é rei

Venho trabalhando essa ideia há algum tempo. Não está finalizada (e, talvez, nunca estará), mas já serve para começar uma reflexão de nosso tempo, com a qual, no momento, tenho sustentado a seguinte hipótese: nossa ANSIEDADE na busca pelo PRAZER IMEDIATO está consumindo nossa rotina de uma maneira impressionante.

Como comecei com isso? Há algumas semanas, tive uns três dias difíceis, com tarefas que não se encaixavam e nem se resolviam. Parecia que eu estava o dia todo preso nelas. No meio dessa bagunça toda, me peguei procrastinando nas redes sociais. Sério? Com tanta coisa pra fazer? Mas era só uma olhada. E outra, outra… No final dos três dias? Média de quatro horas diárias de celular, sem ter produzido exatamente NADA com ele!

Somaram-se alguns casos de pacientes. Me lembro de uma moça, trinta e poucos anos. Tínhamos acabado de fechar seu diagnóstico de diabetes tipo 2. Consulta na qual você fecha diagnóstico é sempre mais pesada, exige mais conversa. É o início de um tratamento e essa consulta pode determinar todo o restante de seu acompanhamento. Minha primeira abordagem: mudanças no estilo de vida. Boa alimentação, exercícios… Sou interrompido pela seguinte fala: “Doutor, não vou deixar de comer nada que eu gosto não. A vida é uma só. E também não tenho tempo não pra fazer exercício. Me passa os remédios aí que eu tomo”. Por hora, termino esse relato para começar outro.

Um paciente com 40 anos me procura para tratamento da obesidade. “Quero emagrecer bem rápido. Minha meta é perder dez quilos em um mês”. Após uma breve conversa, onde tentei abordar esse objetivo por outro ângulo, recebo a seguinte resposta: “Olha doutor, não tenho muita paciência não. Tem que ser rápido, senão eu desanimo logo”. Logo. O que seria logo? Ele tinha um histórico de inúmeras tentativas de emagrecimento, com várias perdas grande de peso, mas voltava a engordar tudo de novo. Logo vi que ânimo não era seu problema, só estava correndo por fora da pista certa. Talvez, tentando pegar um atalho que, na verdade, não existia. E ele voltava sempre para o mesmo lugar.

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Qual a resposta para comportamentos desse tipo? ANSIEDADE na busca por resultados rápidos, que trazem algum prazer, algum sentimento de realização e alimentam a DOPAMINA da maneira errada. E daí? O prazer imediato acaba. E, com ele, todo o seu gás, a sua motivação extrema. O resultado já foi alcançado? E qual a resposta? Modo de relaxamento ativado novamente. E o peso volta.

É cansativo, é repetitivo, mas é essencial. Abordo muito com os pacientes: a conscientização é muito importante. Não adianta traçar as melhores estratégias, dar as maiores facilidades, trabalhar com os melhores treinos e produtos, se a busca do paciente continuar sendo o prazer imediato. Se ele, conscientemente, não procurar olhar além da barreira da ansiedade (e tratá-la, quando indicado), andar além do imediato e se mover mesmo sem a força da motivação, na maioria das vezes, não atingimos os melhores objetivos. Não trazemos a melhora da saúde e da qualidade de vida que são nossos maiores desejos. No final das contas, o paciente precisa atuar de verdade no seu próprio cuidado!

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